Sabe, o medo caminha muito comigo
Ele acha que pode me amarrar pra sempre.
Que pode ser meu amigo.
Mas eu nunca disse, nem que sim nem que não.
O medo pode ser um bem,
mas é mal quase o tempo inteiro.
Ela ama ser desordeiro
Ama me deixar sem chão.
E se eu disser pra você que eu já tentei sufocá-lo?
Você me repreenderia?
Eu gostaria que não...
Pois não consegui
Penso ainda estar de mãos vazias.
As vezes ele me tenta, me rouba, me assombra
Me diz que eu não vou em frente
Que sem ele sou miserável
Que sem ele não vou nem a esquina comprar pão
Mas, eu que digo pra ele essas mesmas coisas,
tirando o "sem", e colocando o "com" no lugar.
Quantos anos são necessários,
pra entender que o medo não vale nada?
Quantos anos eu passei pra entender,
que aquela sentada não era eu
Era um fragmento que eu inventei.
Por simples impaciência eu não abri os olhos
Achava que o que de melhor pudesse acontecer
Teria de acontecer ali
Enquanto eu estivesse imóvel, de olhos fechados e só.
O medo era um rabisco forte
no meu caderno de desenho velho.
Era o meu sorriso pobre
quando acordava de um sonho sincero.
O medo era meu inimigo,
mas me prometeu o céu e a lua.
Pena que tarde eu descobri
A ilusão era sua amiga também.
Saberei eu deixar ele ir embora?
Ou ele hoje é forte por causa do muito tempo?
Olha, me trás arrepios pensar isso
Olha, preciso sair desse escuro já!
O que mais dói não é ver a verdade
É ver que ela sempre esteve ali
Pedindo através de uma mimica falante que eu a visse
E eu sempre virava o rosto
Era o medo, meu companheiro
Que me distraia e desconcentrava.
Acho que chances já tive
Joguei fora, infelizmente.
Acho que chances eu tenho
Preciso me agarrar a isso.
Acho que chances terei
Ouvi alguém dizer: "medo tu és um covarde"
Sorri, ao ouvir
Foi a coragem que falou,
enquanto me abraçava e trazia para a mais terna
e reconfortante luz.
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