Se tem uma coisa que
causa dificuldade de entendimento na gente é a desculpa e o perdão. De onde eles
vêm? Para onde vão? Destinadas a quem estão? Essas são as primeiras perguntas
que nascem na mente de quem se vê na obrigação de pedir uma dessas coisas.
Outra pergunta seria: Por que nós a pedimos? São mistérios que provavelmente os
bons costumes alimentam, mas sinceramente eu espero que seja muito mais que
isso. Muito mais que um excesso de pedidos por vontade de demonstrar postura.
Não me sentiria minimamente feliz caso acordasse de um sonho onde pedir perdão
e desculpas fosse mero ritual, mera ferramenta de meu arsenal.
Anteontem sai às pressas
de casa, sorri para meu vizinho que apontava na porta no mesmo instante, sorri
para a garotinha que atravessava a rua vindo da escola, mas não me recordei de
sorrir para minha mãe que preocupada me olhava ao longe, vendo minhas passadas
rápidas ao encontro de mais um dia débil ou sensacional, nas terras além de
seus amáveis olhos e coração. Nesse momento eu deveria pedir desculpa, sim
desculpa, porque estas conotam o sentido de me justificar por algo que de
errado fiz sem, no entanto, tê-lo feito propositadamente. Sempre que faço algo,
percebo a falha, e peço desculpa estou tentando me livrar de uma culpa, que
causei sem saber direito o motivo. Olha, e eu sempre fui mestre nessa ciência.
Na ciência das desculpas, seja quando fazia algo muito grave ou quando
inadvertidamente esquecia de coisas essenciais para quem eu amava. Quanto mais
se vive mais se aprende com os erros e mais se pede essa pequena coisa
subjetiva, a desculpa. Seríamos todos muito mais felizes se soubéssemos o valor
de usá-la na hora certa, como também de não a usar quando o dever do silêncio é mais atraente e sensato.
E o perdão? Ah, o perdão!
Lindo, sublime, imaculado, sagrado... São essas as palavras que usaria para
descrever a atitude de maior extensão e dificuldade do mundo inteiro. Foi o perdão
que me fez chegar até aqui. Quantas desculpas já pedi, para que hoje soubesse
que propositadamente errei e devo pedir agora perdão? Muitas, mais do que
consigo contar. Ao pedir o perdão, peço a remissão de uma culpa, dívida, ofensa
que disferi a outrem. Reconheço o erro assumindo a posição de culpado, me
arrependo e expresso a dor de não ter querido cometê-lo. Hoje eu sei de mil e
uma situações em que pedir desculpa não adiantaria, pois concluo que de
propósito tenho repetido o erro, e que somente um pedido sincero de perdão irá
me redimir de tamanha vergonha, de tamanha corrupção.
Enquanto o sol, a lua e
as estrelas brilharem nesse ponto de luz que é a terra, as pequenas pessoas que
a habitam irão errar. Haverá dia em que nada mais causará dor como saber do
sofrimento gerado por mero descuido ou por descarado querer. Olhe, criança, eu
não sei se você tem lido olhos suficientes, abraços em larga escala, ou gestos
inesperados, mas aconselho que deveria correr e fazer isso agora, pois quem vai
saber se vida terá para desculpar ou perdoar amanhã? E muito mais, se viverá
para pedir ambos antes que seja tarde demais? Não, minha criança, ninguém sabe,
só o Criador de todas as coisas. E você ainda fica aí, parada, com esses olhos
esbugalhados na frente de uma tela, quem sabe comendo algo extremamente não saudável,
pensando em coisas que alimentam o ócio, fazendo somente o que acha que é
melhor fazer, ou seja, adormecer para a importância do amor e das atitudes em
vida. Amanhã será pouco, e talvez o erro cresça como a fumaça decorrente de uma
nova fogueira acesa, sendo extraviada pela chaminé. E bem assim são as nossas
almas: fumaça saindo pela chaminé. De uma espessura grossa e cor cinzenta quase negra, deixamos a mancha dos nossos erros esvaírem-se pelo vento.
O dia mais feliz da vida
de alguém não é quando nasce, não é quando faz dez ou quinze anos, muito menos
dezoito, que dirá vinte um. Esse dia também não é quando você se casa, quando
tem filhos lindos, uma casa para chamar de sua, ou quando morre cheio de netos
e a consciência tranquila. O dia mais feliz da vida de alguém é todo o dia em
que se pede uma desculpa, ou que devidamente cansado de errar de propósito se
pede perdão. Pois é aí que se renasce. Como diria Jesus Cristo: 70x7. Sim,
70x7. E essa é a melhor fórmula que já conseguiram deixar escrita.
Me perdoe agora, criança,
pelos inúmeros pedidos de desculpa quando eu devia mesmo era um pedido de perdão. Ou
simplesmente por aquele dia em que o orgulho foi tamanho e sequer palavras saíram
de meus lábios cansados do choro. Eu não quero que me ache enganosa, só preciso
que entenda o quão difícil foi chegar a entender a necessidade de proferir tais
palavras. Eu era só uma menina cansada, e mimada, e sem escrúpulos. E você
talvez também não soubesse do que se passava entre nós, um vento forte demais
nos fazia retumbar em nossos egos inflados e o que mais sabíamos fazer era ao invés
de desculpar ou perdoar: errar.
Mais uma vez e
resumidamente, me perdoe por esse excesso de desculpas... A vida é curta demais
para que guardasse mais um dia esse momento de paz que agora podemos ambas
usufruir. Seja sempre minha criança e eu prometo sempre retribuir-lhe com
fervor, não só pedidos, mas o verdadeiro amor fraternal.
Para minha doce amiga: Emile Souza <3
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