De uma vez por todas,
faz-se necessária a explicação. Um ser é uma versão, para dentro ou para fora,
geralmente. Mas sim, sempre uma versão. Alguns, grandes conquistadores,
saltitam sorrisos com todos, alimentam emoções positivas, transparecem de
imediato seu brilho, sua cor... E outros, bravos guerreiros, só se mostram aos
poucos, só conseguem ser para dentro, mas fazem festa com frequência, mesmo que
apenas num apartamento mental aconchegante.... Estranho não é mesmo? Mas deixe
de bobagem, você deve conhecer ao menos uma dessas figuras ilustres, e assim
como eu deve ser muito feliz por essa convivência.
Hoje, porém, vim falar só
dos guerreiros, pois acho que me incluo no grupo, se é que eles formam um grupo.
Eles sofrem de um estado quase engraçado chamado “introversão”, isso mesmo, você
leu certo, só ainda não entendeu. Sabe o que é introversão? Vou dar minha
humilde definição: alguém cuja “versão” é “intro”, isto é, alguém com uma
versão para dentro. A gente vai chegar lá, calma, te acompanho!
Esses bravíssimos
guerreiros vencem as guerras calados, sorrindo por dentro, com facilidade para
ruborizar as vezes, com pouco desejo por estímulos. Esses bravíssimos
guerreiros não querem ter um milhão de curtidas no Facebook, apenas uma amizade
que dure e que os entenda e não julgue. Sua cabeça é mais ativa que uma
locomotiva, e usa inúmeras artimanhas diárias para regozijar-se com a beleza de
pensar. Temem o excesso de colorido, precisam que vejam que não são antipáticos,
nem metidos, apenas querem o direito de ver a vida pela lente mais bem
escolhida que puderem ter acesso.
Os guerreiros não têm
lanças e espadas como os conquistadores, talvez estejam mais bem-dotados de
arco e flecha ou até de escudo. Eles caminham para dentro de si como se um imã
houvesse por lá, como se as respostas estivessem num baú bem lá no fundo, e no
requinte dos momentos entendem que não encontraram muitas coisas, mas que ainda
podem desvendar mais... E isso é a grande recompensa. Armados ou não eles se
divertem, cantam na chuva sem nem chover, dançam no teto e deixam-se escorregar
por telhas velhas e com teias de aranha. O mais engraçado é quando sofrem
tentativas de definição, pois geralmente se ouve um “são antipáticos, metidos,
ou fingem ser superiores”... Ah, que inocência, não se trata de nada disso.
Mundo, os guerreiros só precisam que vocês queiram conhece-los e amá-los assim
como se expressam!
Conviver com um desses
guerreiros, sendo você conquistador ou guerreiro, é semelhante a andar com uma
caixa de surpresas, pois não se sabe o que está dentro, já que tudo que era para
estar fora eles colocam dentro sem antes pedir permissão. Sim, parece que são
egoístas, mas não o são, bem, pelo menos quero acreditar que não, por mais que
isso não invalide a existência de alguns espécimes curiosos.
Por vezes esses contritos
solitários, sentem-se tristes e angustiados, por não gostarem do mesmo que os
outros, por não quererem soltar borboletas a cada conquista na vida. Mas saibam
meus caros, que esses queridos personagens são versões bonitas, versões bem
recatadas do que se poderia chamar de intrigados. Amam pensar nas possibilidades,
nas diferenças e nuances, nas cobertas que os tiram do frio, no sorriso do
menininho da padaria, na nota do acorde do pianista, no sopro do beija-flor nas
damas do jardim plantado. São tantas as coisas que um introvertido sente, que
fica difícil saber como explicar pro mundo que o rodeia, fica complicado até
explicar à si mesmo. E a vida vai assim, de embaraço em embaraço, no curso pleno
do passo de dança que sonhei que daria hoje escrevendo esse texto.
Alguém que se expressa
numa versão para dentro sabe que precisa versionar-se até ficar para fora de
vez em quando, e tenta isso constantemente, quando não está pensando demais
para chegar a uma conclusão. A quantidade realmente não move os guerreiros,
eles são movidos por paixão, por perturbação, por lágrimas e até confusões... Querem
um sonho na realidade, uma esperança em todo fim de túnel, por mais que não
vejam túneis com frequência. Me diz se você é conquistador ou guerreiro, e te
mostrarei como um precisa do outro, como se complementam, como precisam quimicamente
se encontrar nem que seja pra explodir. Mas vamos em frente pois isso é pensar
demais, e talvez minha classificação dentro do grupo esteja fazendo-se
demonstrar.
Um introvertido não teme
falar, ele só não acha que precisa sempre. Um introvertido não quer ficar sozinho,
só não sente que precisa sempre estar acompanhado para sentir-se confortável.
Um introvertido gosta de conversar consigo, por mais que ele seja a pior
plateia que já tenha conhecido. Um introvertido ama quando as coisas divergem,
quando elas mostram a assimetria mais simétrica que o universo pode demonstrar. Ele vê um padrão na vida, e não é um padrão ruim, muito pelo
contrário, é a coisa mais fascinante que ele consegue se lembrar no momento em
que vê. Um introvertido vai amar ver você feliz, e vai amar ver as covinhas do
seu rosto subirem por você compartilhar com ele do silêncio. Este ser guerreiro
vai lutar com armas sem som para ensurdecer a multidão, vai caminhar a passos
largos e inseguros até que todas as possibilidades se esgotem, e cansado caia na
cama novamente pra sonhar.
Todos os pedaços do meu
ser talvez estejam no chão agora, e isso não faz-me triste, o que o faz é saber
que você convive comigo sem, no entanto, me reconhecer. Dia após dia, você olha
na minha direção, esboça palavras a meus ouvidos, mas não sabe quem eu sou e o
que eu gostaria que soubesse de mim. Talvez essas últimas palavras sejam uma
grande referência a alguém, ou talvez seja só mais um devaneio meu, típico de
um guerreiro, que quer agora pensar em muitos conquistadores sorrindo com o
coração.
Para a mais fofa das guerreiras:
Laianny Rezende.
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