Há uma coisa, umazinha só, que incomoda a mim de infinita força, com intensa tristeza. É a ausência de confiança. Ela nasce da incerteza, se alimenta do medo, dorme nos braços do desencanto e não deixa os sonhos serem belos nem leves. Hoje ela é comum, pois as pessoas vivem a tomar desconfiança como café matinal e saborear suas sobras também no jantar.
O tempo cronológico é quem nos diz em que medida estamos acertando ou não a estrada. Esse tempo vai passando, vai voando, e as manchas do chão vão aparecendo nas sandálias, as roupas se desgastam, se acomodam no corpo da gente como se não fossem mais ser retiradas, mas ficar ali amalgamadas independente do amanhã. Não suportamos a intensidade dos sentimentos, as coisas começam a pisotear-nos e não resta dúvida: não sabemos confiar.
Costumo creditar à confiança a beleza de viver ou existir. Imagine deixar-se cair nos braços de alguém que não sabe se estará com eles de fato estendidos. Imagine mostrar-se puro, por inteiro, sem reservas e até com o íntimo e obscuro coração aberto tal qual um órgão cirurgicamente modificado. É assim que se confia, sem portas fechadas. O resto é mentira. O resto é tentativa. Isso dói a ponto de não haver anestesia capaz de sanar o incomodo, pois é preciso ser e estar vulnerável para experimentar tudo de autêntico que existe na vida. Sim, incomoda, já que não é normal mostrar-se inteiro à ninguém. Nem pra nós mesmos o fazemos, pois os monstros no espelho gritam nossa verdadeira identidade, aquela que ninguém na terra vê e que fica escondida na solidão. Um impulsivo arrepio percorre nossa alma a toda vez que tentamos, a toda vez que falamos, a toda vez que pensamos em deixar a porta aberta e o outro entrar. Há dias em que a vontade de confiar é maior, mas a coragem não vem. Tudo surge, menos o ímpeto de desnudar-se das máscaras delineadas a cada dia desde o nascimento... Mas eu sei que não precisamos temer, e mesmo assim não falo, deixo as coisas andarem, de pé em pé, de ansiedade em ansiedade.
Percebo não precisar ser diferente de mim quando desejo confiar, por mais que o medo assombre, faça calar e arranque de mim o chão. É preciso confiar, deixar os olhos abertos sorrirem para aqueles que passam, deixar a alma lavada e livre frente ao espelho que nos mostra a essência mais profunda.
Novamente, deve-se salientar, confiar é tarefa árdua, de nível elevado e constante. Demanda força, paciência e ânimo, o que nem sempre se encontra nas esquinas da vida. Confiar é como andar numa corda bamba de olhos vendados, sem saber se há colchão embaixo ou um amontoado de pedras cortantes. E qual o benefício? Tantos que dedos nas mãos não há para contar. Confiar é ter a certeza do amparo ou até dá-lo sem o desespero de achar que o esforço não será retribuído. Quem confia sabe bem que é a melhor coisa do mundo, mas não é a mais fácil, talvez só se consiga com poucos, em determinados locais, com todas as circunstâncias convergindo à favor.
A confiança não é um mero artifício que se lance mão diante de uma necessidade natural, é uma possibilidade dentre as inúmeras que temos no cotidiano. É possível escolher ser falso ou invés de verdadeiro, mentir ao invés de lançar a mais crua verdade, ser enganoso ao invés de honesto. O que me faz ser quem eu sou, se nem eu sei quando acordo se sou aquilo que o espelho diz? A confiança. Eu confio que sou eu ali refletida e assim prossigo para os variados alvos adiante. Se eu confiar na falsa imagem que por vezes desenvolvi também sobrevivo, pois a vida depende de confiar minimamente, de outro modo seríamos desconhecidos e desconhecedores tal qual os homens do Mito da Caverna de Platão.
Quero considerar que confiança é alimento afável para a alma, apesar de sua difícil deglutição. Há pessoas na nossa jornada que serão dignas o suficiente para alcançarem de nós a sinceridade e a confiança, há aquelas que conseguirão assentar-se à nossa frente e ver saltando dos olhos a angustia, o medo, a ansiedade e também o resto de fé que houver. São essas as pessoas importantes, não se engane com as demais, são essas as que ficam, por mais que você deseje iludir-se na multidão dos "conhecidos". Encontrar alguém que te entenda é aconchegante como uma poltrona de puro algodão, faz-nos respirar com mais vontade, calma e desejo. Encontrar alguém com abertura para que confiemos é deixar as coisas superficiais caírem na calçada enquanto caminhamos. Cada passo é um ganho. Cada segundo é surpreendentemente gracioso, não havendo mais nada a dizer que comporte em sentenças a sensação de sentir-se compreendido e contemplado.
Confiar é deixar que uma faca de medo te transpasse e saber que ela não será mortífera, mas ao contrário, dará verdadeira vida.
A confiança não é um mero artifício que se lance mão diante de uma necessidade natural, é uma possibilidade dentre as inúmeras que temos no cotidiano. É possível escolher ser falso ou invés de verdadeiro, mentir ao invés de lançar a mais crua verdade, ser enganoso ao invés de honesto. O que me faz ser quem eu sou, se nem eu sei quando acordo se sou aquilo que o espelho diz? A confiança. Eu confio que sou eu ali refletida e assim prossigo para os variados alvos adiante. Se eu confiar na falsa imagem que por vezes desenvolvi também sobrevivo, pois a vida depende de confiar minimamente, de outro modo seríamos desconhecidos e desconhecedores tal qual os homens do Mito da Caverna de Platão.
Quero considerar que confiança é alimento afável para a alma, apesar de sua difícil deglutição. Há pessoas na nossa jornada que serão dignas o suficiente para alcançarem de nós a sinceridade e a confiança, há aquelas que conseguirão assentar-se à nossa frente e ver saltando dos olhos a angustia, o medo, a ansiedade e também o resto de fé que houver. São essas as pessoas importantes, não se engane com as demais, são essas as que ficam, por mais que você deseje iludir-se na multidão dos "conhecidos". Encontrar alguém que te entenda é aconchegante como uma poltrona de puro algodão, faz-nos respirar com mais vontade, calma e desejo. Encontrar alguém com abertura para que confiemos é deixar as coisas superficiais caírem na calçada enquanto caminhamos. Cada passo é um ganho. Cada segundo é surpreendentemente gracioso, não havendo mais nada a dizer que comporte em sentenças a sensação de sentir-se compreendido e contemplado.
Confiar é deixar que uma faca de medo te transpasse e saber que ela não será mortífera, mas ao contrário, dará verdadeira vida.
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