Estou pronto?



Um dos piores momentos que podemos ter é o de não saber como reagir às novidades que surgem na vida. Primeiro, por elas serem situações novas, inesperadas. Segundo, por elas não darem tempo de processarmos como responder. Esse medo de via-dupla é inerente a todas as pessoas, pois mesmo aquelas que amam mudanças se sentem despreparadas no instante em que estas ocorrem.
E a pergunta que ronda nossa mente é se "estamos prontos?". Não sei quem inventou essa fórmula de estar pronto, mas há pouco tempo é que vim entendê-la. Não significa que devamos ser perfeitamente programados para lidar com as circunstâncias, e além disso sabermos como nos comportar sem, no entanto, sermos eufóricos ou tristes com estas que emergem sabe Deus de onde. Estar pronto significa estar disposto a tentar, talvez não sempre, mas na maioria das vezes. Só se está disposto com o mínimo de condições favoráveis, o que já desmistifica o monstro do "estar pronto" como sinônimo de ser perfeitamente capaz de bancar todas as dificuldades que vêm agarradas às mudanças. Se temos as condições mínimas para algo e nos dispomos a tentativas temos muito mais a possibilidade de usar o rótulo "estou pronto".
Quando digo que estar pronto é estar disposto a partir do mínimo das condições, não digo que isso é rápido e automático, muito pelo contrário, quero dizer que isso é milimetricamente pensado e analisado. Há decisões que são tomadas muito precipitadamente, como que na ânsia de darem certo e no senso de só o darem caso comecem imediatamente, mas isso é ilusório. Tomar novas atitudes diante de novidades é algo extremamente difícil e necessita de uma mentalidade madura e perspicaz. 
Pessoas jovens podem estar prontas, pessoas mais velhas podem estar prontas, pessoas no intermédio entre as duas condições podem o estar também. Não há regras quando a questão é a maturidade, só talvez a premissa de que a disposição é necessária. Quando nos colocamos diante de um espelho a observar nossa aparência podemos duvidar da prontidão, apontando aqui e ali coisas que se poderia melhorar ou anular. Isso não deixa de ser construtivo, mas até quando olharemos e criticaremos ao olhar o espelho? Se pararmos pra pensar, poucas foram as vezes em que olhamos no espelho para nos sentirmos satisfeitos. Por que isso acontece? Porque nós vivemos de comparar-mo-nos com outrem. Vivemos de imaginar o quanto falta para sermos parecidos com "fulano (a)", e isso é uma adaga no peito da disposição para tentar. Se não vemos que já podemos nos dispor mesmo sem parecer com o outro nunca tentaremos, e o mundo se encherá de sábios covardes. Será uma geração composta de imperfeitos com síndrome de "perfeição". Se ninguém estende a mão parece que eu também não devo estender, e aí nasce o monstro da conformidade.
Se ainda há dúvidas quanto a quando estamos prontos pra viver algo novo, deve-se questionar a pessoas de confiança, deve-se questionar aos alvos da nova experiência, deve-se questionar ao divino. Não há respostas prontas dentro de nós mesmos, só confusão muitas vezes. Mas fora de nós há respostas que nem sempre enxergamos e é assim que a vida segue, de tempo em tempo, de disposição em disposição, ou não.
Para que fique mais clara a ideia por trás desses pensamentos, posso comentar como temos medo do futuro por não nos vermos prontos. Isso tudo é muito relativo e novamente caímos na armadilha de não nos dispormos. Quando se é jovem se pergunta o que queremos ser quando crescer, e quando se cresce se tem medo de arriscar. Quando encontramos bons amigos nos questionamos se devemos nos doar, pois tememos não estar prontos para uma decepção caso a vida assim tenha reservado pro futuro da relação. Quando encontramos alguém de quem gostamos nos impedimos da autenticidade por temer um "não", e assim por diante... O problema não é não estar pronto, é não estar disposto. Não estou fazendo apologia a ser um completo idiota e bobo, é preciso cautela, mas também é preciso coragem para tudo e aí reside o x da questão. O mundo não é simples, mas a vida o pode ser se a escolha por essa estratégia for feita. Se relacionar com as pessoas não é fácil pois cada uma delas comporta um universo interior que não sabemos como desvendar, mas que ao longo do tempo podemos fazer ideia. Se a disposição não for a chave do nosso sucesso, nada mais o será. E se ninguém ainda entender o que quero dizer, talvez não deva eu sofrer por isso, pois até eu demorei a entender.

Comentários