abraço no caos



   
 
 Não sei mais o que é isso aqui. Um blog, um diário, um bloco gigante de notas talvez.

            Só sei que as vezes é difícil ser vulnerável por longo prazo. Em certa medida devo isso a mim mesma, escrever e deixar um registro histórico, seja aqui ou em minha mente cada vez mais envelhecida e perturbada pelas nuances vividas. Nem sempre sei para onde estou indo, mas as vezes é bom olhar as placas que se vão expondo na jornada. Algumas dizem pra parar, outras apenas "prossiga", outras preveem  o que se encontrará em alguns poucos metros.
             A vida já foi mais simples, mais doce e segura. Hoje está um caos gigantesco lá fora, e eu da janela concorro com o inverno a intensidade da queda. Não seria eu se não houvesse o drama da narrativa, é óbvio. Mesmo a idade não me roubou tal característica, que hoje é mais rústica ou até arrojada diria, mas ainda sim muito viva.
            Se o problema fosse só o tempo estaria de bom tamanho, mas não é. A vida tem sido caótica em níveis pouco críveis, pois não temos tido tempo de crer ou de entender absolutamente nada que se sucede. Gostaria de ter respostas, perguntas novas, mas a única que paira em minha mente é "vou sobreviver a isso? e será que todos irão sobreviver?". Não há resposta para tais perguntas, há só o tempo passando desgovernadamente em frente aos olhos da humanidade. As coisas estão embaçadas aqui de dentro, não de um jeito bom, não como se fosse o vapor de um chocolate quente em meus óculos, e sim como se tivesse usado colírio demais, ficando momentaneamente cega e zonza com a visão desfocada.
        Não sei se estou bem ou mal, nem se chegarei a algumas dessas categorias. Sei que estou viva, sentada sobre uma cadeira com visão privilegiada do inverno, do frio em meus ossos, e do calor de algumas lágrimas. Mas tudo bem, não se exasperem os mais incomodados com as lágrimas, elas são parte de mim, de todos provavelmente, e se elas não viessem de vez em quando o que seria de nossa pobre consciência e saúde mental? Enfim, sobraria pouco para contar história.
        Bem, o amor e a amizade são os ingredientes salvadores dessa época sombria. Amenizam a dor da insegurança e do medo do porvir. É inegável a terapia que esses dois ingredientes são, e como gradativamente nos mantém vivos e aquecidos, desta vez de um jeito muito bom, como um vapor de chocolate quente naqueles dias mais frios. É um sabor de vida, de aconchego e calma no meio do caos. Novamente, trago aqui o pensamento: não sei mais o que é isso aqui, se um vento nos meus anos, ou se um sopro nos meus dias, se é um blog ou se já foi, se é uma diário ou se será, se é só e simplesmente um jeito ameno de sofrer e de sorrir.
        Acho que não dá pra responder, não agora quando o inverno chegou e as portas e janelas estão fechadas, quando nos vemos apenas pelos olhos que sobressaem acima de uma máscara, e não mais pelo sorriso e pelas expressões indecifráveis. Se a gente sair dessa, talvez eu me responda o que é que está acontecendo com as pessoas. Por agora, é hora de decifrar o código das lágrimas do mundo, e dos encantos do inverno que também é assustador. 

        Um dia, quem sabe... saberemos o que está acontecendo. Até chegar lá, desejo que fique bem e se sinta abraçado a distância.


Comentários